Muitos alunos esperam um professor velho britânico, mas se deparam com uma jovem latina. A universidade é um cenário perfeito para a reprodução do poder masculino.
* O texto é da Rosana Pinheiro-Machado para a Carta Capital
Há muito tempo venho refletindo sobre as desigualdades
de gênero no mundo acadêmico, nas escolas ou na política.
Muitos acreditam que o sucesso feminino é a melhor arma contra um
mundo predominantemente masculino. Como sou um pouco incrédula em
relação ao conceito de sucesso (por não entender muito bem o que
ele significa e quais os parâmetros que o definem), prefiro
acreditar que a resistência se dá por palavras. Palavras públicas.
Dedo na ferida. É preciso desnudar a ignorância machista e
apontá-la no flagra. Nosso papel é tornar o invisível, visível.
Foucault já dizia que conhecimento é poder. O feminismo
lembra que conhecimento é poder masculino. Como se reproduz, então,
essa ciência dos homens? Certamente por mecanismos tão sutis e
invisíveis que nem sempre são facilmente identificáveis.
Muitas mulheres quando entram em uma sala de aula pela primeira
vez para ensinar seja Física ou Ciência Política enfrentam
rotineiramente a ridicularizarão de meninos que simplesmente não
conseguem sincronizar a expectativa – uma disciplina encarnada na
figura de um homem – e a realidade. Aí começa uma longa jornada
de deboches, afrontas e desdéns.
Mas isso não é observado por todos. Geralmente, só a professora
que sente calada e enxerga com o canto do olho a arrogância do aluno
(e da aluna também). As consequências desse ato tão pequeno, mas
tão poderoso (que é engendrado por parte de meninos que, na
verdade, pouco sabe sobre que está sendo ensinado) é o
desenvolvimento de um processo de autodilaceração, insegurança e
até pânico entre as mulheres. O ensino se torna um fardo e uma
provação constante.
Foram tantas as vezes que eu entrei em sala de aula e, ao falar
sobre teoria social, deparei-me com alunos que simplesmente não
conseguiam me olhar nos olhos. Mas os problemas não acabam por aí.
Salas de professores e corredores universitários são cenários
perfeitos para a reprodução do poder masculino. Tente entrar na
roda de discussão sobre política ou economia.
Não se surpreenda se seus colegas continuarem de costas para
você, mais ou menos como acontece quando uma mulher tenta dar uma
opinião sobre tática futebolística. Se a mulher levantar a voz
para ser ouvida, será chamada de histérica. Mas se ela conseguir
entrar na roda dos meninos, não é raro que sua opinião seja
desprezada por gestos microscópicos, como a mudança ligeira de
assunto. Uma verdadeira máquina de exclusão e de corroer
autoestima.
Ao longo destes anos, ouvi muitas colegas dizerem que eu precisava
me masculinizar se quisesse ser respeitada. Eu teria que aprender a
“colocar o pau na mesa”. Ou apenas tornar-me “assexuada”. Mas
confesso que a preguiça de colocar esse plano em prática é
inversamente proporcional ao apreço que tenho pelo meu batom
vermelho.
Leia o texto completo no site da Carta Capital.
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