O texto é extremamente interessante e chocante no bom sentido... eu me arrepiei toda ao ler... me vi na situação descrita...
Li o texto no Papo de Homem...
O seu namorado abusivo
Ele não te bate, ele não é esse tipo de abusivo.
E ele não é maldoso, nem controlador, não dessa forma. Não exatamente.
Mas ele toma cuidado para que você não perceba que tal filme vai
passar hoje à noite, e ele sagazmente evita as aulas de dança que você
quer fazer. E ele muda de calçada ao ver um de seus amigos, ou um
outdoor com Johnny Depp.
Ele não é ciumento, ele apenas não quer que você… se distraia.
Ele não tem problema algum em admitir que outros homens também são
bonitos (“Eu não sou nenhum Tom Cruise”), mas nunca os homens que você
acha atraente.
Ele nunca é grosso ou desrespeitoso com seus amigos quando vocês saem
juntos (ele vai sem estar muito a fim, vai só por você), mas depois ele
te lembra de como você é melhor que eles, e quando eles fazem algo
“tipo isso ou aquilo” é bobo/errado/abaixo de você. Ele nunca te proíbe
de sair com eles, mas sempre tem um motivo para não ir,
coincidentemente. “Ah… bem… eu tinha planejado uma noite especial só pra
nós dois…”
E que doce que ele é: todo mês te compra um CD novo e uma rosa,
embora hoje em dia você não ouve mais as músicas que você costumava
gostar.
Ele está sempre com você, sempre em contato contigo. Mesmo quando ele
não está ao lado você pode ouvi-lo na sua cabeça, como um pensamento.
Você já até disse pra ele: “Às vezes, eu estou prestes a fazer algo que
eu teria feito antes de te conhecer, aí eu ouço sua voz e penso ‘bem, o
Carlos diria XYZ’, e percebo que eu não deveria fazer aquilo, e eu me
sinto tão mais feliz em ter essa parte de você comigo”, e ele afirma com
a cabeça compreensivamente. “Sim,” ele pensa consigo mesmo, “você está
aprendendo a ser uma pessoa melhor.”
Ninguém mais que te conhece entende por que você está com ele.
Mas você não está infeliz. Quando você está com ele, sozinha, tudo é
ótimo. E ele te ama, não há dúvidas com relação a isso. Talvez você
pense que ele esteja preocupado que você não o ame? Mas você o ama. Como
você pode expressar isso pra ele, para que ele acredite, para que ele
não se sinta ameaçado por ninguém?
Guarde seu fôlego, não é com isso que ele está preocupado. Ele tem um
diferente tipo de pavor porque ele é, afinal, muito inteligente. E
perceptivo. Ele tem, no fundo, um pressentimento de que vocês não são
realmente compatíveis, e ele pode até saber que ele não te faz bem – ele
pode até suspeitar que está cortando as suas asinhas para que você não
fuja.
Ele diz para si mesmo que está afastando más influências de você, te
protegendo do “seu antigo eu”. Mas ele não acredita realmente nisso
– ele é, afinal de contas, perceptivo. Ele secretamente sabe que essas
coisas “ruins” são o melhor para você, elas são mais você. Ele sabe que
você estaria mais feliz com elas. Mas aí não haveria espaço para ele.
O que ele sabe com certeza é que isto é o melhor que há. Outras
coisas, coisas diferentes, podem te fazer temporariamente mais feliz
– mais dinheiro, uma viagem, mais liberdade, um pau maior, risadas com
amigos –, mas, no que diz respeito à sua vida, sua alma, isso é tudo que
você precisa alcançar.
Ele te ajudará a perseguir qualquer objetivo, qualquer felicidade,
contanto que não comprometa seu relacionamento com ele. Ele te dará o
mundo e te permitirá tudo, contanto que nada te faça pensar se está
sendo manipulada, contanto que nada te faça imaginar se outro tipo de
vida é possível. Não uma vida melhor, apenas uma vida diferente. Ele
tomaria um tiro por você instintivamente, mas se outro cara te disser,
despretensiosamente, que também gosta de pop-art ou elogiar seu cabelo,
então pelos próximos meses você será sutilmente persuadida de que
pop-art é uma fraude e o quão mais bonita você ficaria de cabelo curto. Atacar o cara diretamente seria óbvio demais.
Mas por que tanto esforço para controlar o mundo? Por que não
simplesmente deixar fluir e ver o que acontece? Ele tem tanto medo assim
que as coisas piorem?
Não. Ele tem medo que as coisas piorem ou que elas melhorem. Ele tem
medo de mudança – qualquer mudança – não somente porque o relacionamento
pode mudar, mas porque aí ele teria que mudar também. “Mudar de quê?
Para o quê? Como? Com que conhecimento? Com que controle? Se as coisas
mudarem, não significa que outras possibilidades deixarão de existir?”
São as possibilidades dele que ele tenta linchar com os seus (sim, os
seus) sonhos esclerosados.
Tudo que importa é manter o relacionamento intacto. Mesmo se vocês
dois ficarem miseráveis, antes miséria e estabilidade com ele do que a
taquicardia de algo a mais, algo desconhecido, algo que ele não possa
controlar nem de que ele possa se defender.
Você conhece esse cara? Você acha que conhece.
Eis o que você precisa saber: o namorado que eu estou descrevendo não
é o Carlos, o playboyzinho que está sempre nas suas chamadas recentes. E
não, isso não é direcionado a você, garanhão. Não estou dizendo que
você está fazendo isso com sua mulher, embora você possa estar. A
qualquer momento só existe uma pessoa na sala, não importa quantas
pessoas estejam na sala, e essa pessoa – você – está arrastando pra lá e
pra cá o homem com o qual viveu por anos. O namorado abusivo que eu
estou descrevendo é seu subconsciente, e o Carlos não tem nenhuma culpa
disso. O que o Carlos fez – por meio da intuição hipertrofiada de homens
prejudicados – é entender como esse subconsciente funciona.
O subconsciente não liga para felicidade, nem tristeza, nem
presentes, nem agressões. Ele tem um único objetivo: proteger o ego,
proteger o status quo. “Não mude nunca, e você não morrerá.” O
subconsciente te permitirá mudar de estado para fazer faculdade e
escapar dos seus pais, mas as frases de efeito deles falarão ainda mais
alto quando você chegar lá. Te fará pensar que você está dando uma
guinada na sua vida, mudando para aquela cidade ou casando com aquele
cara sensacional, mesmo quando todo mundo ao seu redor vê o que você não
consegue: que Salvador é a mesma coisa que Fortaleza e que o atual é a
mesma coisa que os anteriores. E as oportunidades perdidas – “talvez eu
não devesse” e “isso não é meio perigoso?” e “ele provavelmente já tem
namorada” e “eu não posso mudar de carreira aos 42 anos” e “será que eu
mereço isso?” e todos aqueles projetos que você concluiu 75% em três
meses e está há anos tentando completar os últimos 25% – são apenas a
manutenção do status quo, a manutenção do ego.
Você acha que está com o João por acaso? Foi tudo premeditado.
E quando nada funcionar, o subconsciente vai te botar pra baixo com
apatia. Ou com a novela das 8. Ou com um pote de sorvete. Ou com, ou
com, ou com.
Os homens e as mulheres não estão mentindo para você, e nem você está mentindo para si mesma. Mas você está sendo manipulada.
Nota do tradutor: Tenho certeza que muitos
leitores conseguem imaginar amigas que seriam beneficiadas pelo
texto. Mas todos somos reféns do subconsciente, e se invertermos os
papéis e imaginarmos um homem caindo no mesmo aprisionamento veremos que
a situação é tão comum quanto, se não mais.
* * *
Texto original do site The Last Psychiatrist. Tradução de Lucas Cerro
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