Quem tem amigos tem tudo, não é mesmo?
Tem alguém pra rir junto, pra dar colo na fossa, pra ser a mão
fiel que segura a cabeleira enquanto vomitamos de bêbado ou de
virose, tem companhia no cinema, na viagem pra praia, na vida
inteira. Amigo que vira padrinho de casamento, de primeiro filho, que
dá força quando a gente fica sozinho no mundo. Amigo é pra essas,
praquelas, e pra todas as outras coisas.
Inclusive pra competir.
Pois eu duvido com força que, entre os seus 731 amigos do
Facebook, não haja aquele cujo esporte favorito é ser melhor que
você. Espezinhar você. Te criticar e oprimir – com carinho,
óbvio, ele tá só brincando, ô.
E não, isso não é coisa só de mulher.
Tá certo que, sim, o universo feminino é mais competitivo e
cruel que o dos meninos, mas tá todo mundo cansado de ver relação
entre brothers onde um curte se sobressair e sutilmente acabar com o
outro. Algo na linha Bob Esponja e o capacho do Patrick. Ou tipo
Batman zoando o Robin – e, neste caso aqui, ói que merda, o Robin
da história é você.
Vocês são camaradas da época da escola, e se adoram no nível
cumprimento com safanão nas costas. Não importa: ele quer competir
com você. Até porque, que fique claro, ele tentar ser melhor e mais
Bonitão da Bala Chita não tem nada a ver com falta de amor. É só
hábito mesmo.
Aquela amiga que se gaba em looping, por exemplo, está tão
acostumada a agir assim que nem nota a chatice do campeonato que ela
própria organizou.
Você vai de odalisca no bloco de carnaval, e ela aparece de
bailarina luxuosa de cancã. Ela tem mais plumas paetês fiapos
brilhantes babados enfeites e samba no pé. Sim, porque se você
pensava que mandava direitinho na ginga, ela tem certeza que é
madrinha de bateria.
Você curte literatura? Ela já leu Dostoievski no original.
Tá fazendo mestrado na USP? Ela se formou em Filosofia em
Harvard.
Sabe nadar? Ela ganhou medalhas. Curte balé? Ela dança na ponta.
É fã de cinema? Ela é amiga do Almodóvar. Te chamaram de linda?
Pois ela é des-lum-bran-te.
E a competição não para só nas coisas boas, não. Porque quem
é bom é bom também na miséria.
Se você tá gripado, o cara pegou um vírus letal. Você é
assaltado mas ele sofre sequestro, seu quarto tem uma goteira mas a
casa dele foi levada sem desmontar numa enxurrada colossal, seu tio
morreu e a família dele inteira foi dizimada por um raio.
Mas, repito, não é nada por mal nem coisa que estrague o que
vocês sentem um pelo outro. Aqui é parceria, pô! Aqui é amigos
para sempre, meu, nas virtudes e nos defeitos. Até porque, no fundo
no fundo, o que os competitivos querem é apenas ser amados.
Se possível, claro, mais amados que você.
*Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes,
fatos ou acontecimentos terá sido mera coincidência
Psiu: Este texto é de autoria da Marcella Franco do BlogBonitinhas, mas Ordinária!
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